[como poderia eu desconfiar de que aquilo que parecia falso era verdadeiro, um Figari com violetas ao anoitecer, com rostos lívidos, com fome e brigas nos recantos. Mais tarde, acreditei naquilo que você me contou; mais tarde tive razões para isso, pois houve Mme Léonie que, olhando a mão que dormira com seus seios, Maga, me repetiu quase as mesmas palavras que você havia dito. "Ela sofre em alguma parte. Sempre tem sofrido. É muito alegre, adora o amarelo, o seu pássaro favorito é o melro, a sua hora é a noite, a sua ponte é o Pont des Arts." (Uma barca cor de vinho, Maga, e por que razão não teríamos ido nessa barca, quando ainda era tempo?) E repare que acabávamos de travar conhecimento e a vida já tramava o necessário para que nos desencontrássemos minuciosamente.]
Trecho de O jogo da Amarelinha - Cortázar.
Quando voltei, passando pela Pont des Arts, vi que Mme Léonie me esperava no mesmo canto do parque. Na minha frente, com os olhos arregalados, pegou minha mão e me sentou. O banco estava molhado e cheio de folhas. Colocou minha mão aberta sobre suas coxas e me disse:
- Corta tua mão, pois aquela dama te roubou o destino.
Aquela mão, Maga, aquela mão que acabara de dormir com teus seios.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
que lindooooooooooo... num sabia do teu blogue... nem pra avisar né branquela!
ResponderExcluiradoro tu