quarta-feira, 18 de março de 2009

Paula fitou-o pensativa, suspirou, e os dois pularam ao mesmo tempo para ver quem chegava primeiro ao banheiro. Paula ganhou e Raul tornou a deitar-se na cama e começou a fumar. Uma boa surra... Havia várias pessoas que mereciam uma boa surra. Uma surra com flores, com toalhas molhadas, com um lento arranhar perfumado. Uma surra que durasse horas, entrecortada de reconciliações e carícias, perfeito vocabulário de mãos, capaz de abolir e justificar os desatinos só para recomeçá-los depois, entre lamentos e o esquecimento final, como um diálogo de estátuas ou uma pele de leopardo.

[Trecho de Os prêmios - Julio Cortázar]

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